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Artigo
original
Representac¸ões
do
suicídio
na
imprensa
generalista
portuguesa
Rita
Araújo
a,∗,
Zara
Pinto-Coelho
be
Felisbela
Lopes
baCentrodeEstudosdeComunicac¸ãoeSociedade,UniversidadedoMinho,Portugal
bCentrodeEstudosdeComunicac¸ãoeSociedade,DepartamentodeCiênciasdaComunicac¸ão,UniversidadedoMinho,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa7desetembrode2014 Aceitea5demaiode2016 On-linea16dejunhode2016 Palavras-chave: Suicídio Media Comunicac¸ão Jornalismo Saúder
e
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m
o
AOrganizac¸ãoMundialdeSaúde(OMS)estimaqueocorramcercadeummilhãode sui-cídiosanualmente.Acoberturadosuicídioemsimesmanãopromovecomportamentos suicidas,massimomodocomoéconduzidapelosmedia.Estespodemconstituir-secomo agentesativosnaprevenc¸ãodosuicídio,peloqueimportaconheceraabordagemutilizada. Asautorasirãoprocederaumaanálisedasrepresentac¸õesqueosmediafazemdosuicídio,a partirdostextospublicadosem2013em6jornaisnacionais.Tendocomoreferênciateórica oframingdasnotícias,recorremosàstécnicasdaanálisecríticadodiscursoparaolharmais pormenorizadamenteparaestasnotícias.
©2016OAutor(s).PublicadoporElsevierEspa ˜na,S.L.U.emnomedeEscolaNacionalde Sa ´udeP ´ublica.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Media
reporting
and
coverage
of
suicide
in
Portuguese
media
Keywords: Suicide Media Communication Journalism Health
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AccordingtotheWorldHealthOrganization(WHO)thereareonemillionsuicideseveryyear worldwide.Althoughsuicidemediacoveragedoesnotpromotesuicidalbehaviors,theway thephenomenonisportrayedbythemediamayhavethatimpact.Mediacouldhavean activeroleinsuicideprevention,andsoitisimportanttounderstandtheirapproachtothis issue.Wewillanalyzemedia’srepresentationsofsuicide,throughthenewspublishedinsix Portuguesenewspapersin2013.Ourtheoreticalframeworkiswithinthenewsframing,and wewillapplycriticaldiscourseanalysistoolsinordertoanalyzesuicidetextsthoroughly.
©2016TheAuthor(s).PublishedbyElsevierEspa ˜na,S.L.U.onbehalfofEscolaNacional deSa ´udeP ´ublica.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:rita.manso.araujo@gmail.com(R.Araújo).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2016.05.001
0870-9025/©2016OAutor(s).PublicadoporElsevierEspa ˜na,S.L.U.emnomedeEscolaNacionaldeSa ´udeP ´ublica.Este ´eumartigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Oatodesuicidar-setemsuscitado,aolongodostempos,um leque amplo de questões – conceptuais, morais, psicológi-cas,sociológicas,antropológicas,culturais–ede atitudes– glorificac¸ão,condenac¸ão,vilificac¸ão,angústia,simpatia, com-paixão–nãotendonuncadeixadodeserfontedecontrovérsia. Noentanto,nahistóriadospaísesocidentais,aconfigurac¸ão dessedebateeasuavisibilidadeeintensidadepúblicasnão foramsempreidênticas.Em2004,aOrganizac¸ãoMundialde Saúde(OMS), com baseem estatísticasque indicavam um aumentodas taxas desuicídio,identificouo suicídiocomo umaquestãoimportante de saúde pública aonível global. Atualmente,aimportânciadoassuntoéreconhecida politi-camenteemváriospaíses,incluindo emPortugal, ondefoi identificadocomoumproblemadesaúdepúblicaprevenível nessemesmoquadrodepensamentoedeac¸ão.
À semelhanc¸a do que acontece relativamente a outras questõesassimenquadradas,osmedia,enquantoinstituic¸ão, eos seus profissionais têmsido consideradoscomo atores críticosnaprevenc¸ãodosuicídio,oravistoscomoaliados cru-ciaisdosprogramasdeprevenc¸ão, oracomo obstáculos ou mesmoinimigos,comcríticasedenúnciasemtornodeum eventualpoder de contágio de certos tipos de cobertura – informativaeficcional–ederepresentac¸õesmediáticassobre indivíduos especialmente vulneráveis e em circunstâncias particulares1–3.Importa,porisso,estudarasrepresentac¸ões
queosmediafazemdosuicídio.
Éissoquenospropomos fazernesteartigo,apartirdos textossobresuicídiopublicadosem2013nosjornais genera-listasportuguesesExpressoeSol(semanários),Público,Jornal deNotícias(JN),DiáriodeNotícias(DN)eCorreiodaManhã (diários).Apesarde, emnúmero,nãoseremmuitosos arti-gosnoticiososdedicadosàproblemáticadosuicídio(n=30), importaconhecerosmodosdeabordagem queos jornalis-tasutilizamquandoretratamesteproblema.Vamos,assim, olharparaosmotivosdenoticiabilidadepordetrásdas estó-riassobresuicídio,tentandoperceberqualoânguloquemais motivaaconstruc¸ãodestasnotícias.Tendocomoquadro teó-ricooframingdasnotícias,fazemosumaanálisedetalhadados textos,deumpontodevistadiscursivoecrítico4,5.
Esteestudodecasosobreacoberturadosuicídio insere-se numa investigac¸ão mais ampla, feita a partir de um projeto de doutoramento financiado pela Fundac¸ãopara a CiênciaeTecnologia(SFRH/BD/86634/2012)equetemcomo objetivo perceber a mediatizac¸ão da saúde na imprensa portuguesa.
Enquadramento
teórico
Osuicídio:retratodeumfenómenoUmavezque,nesteartigo,olhamosparaasrepresentac¸ões do suicídio na imprensa generalista portuguesa, impõe-se explicarcomotemsidoabordadoestefenómenoequala rea-lidadequeoenvolveemPortugal.Osestudosquetrac¸am a históriadoconhecimentocientíficoocidentalsobreo suicí-dioesobreosujeitosuicida6 permitem-noscompreendera
complexidadeenvolvidanadescric¸ãoenaexplicac¸ãodesta ac¸ão humana, bem como na questão relativa à forma de melhoragirfaceàmesma.Asvisõessobreanaturezado sui-cídio,aodefini-lodeumadeterminadaforma,permitem-nos julgaraadequac¸ãodaaplicac¸ãodotermoacondutas particu-lares.Masissonãoétarefafácil.Oatodematar-seestáenvolto nummantodeemoc¸õesnegativasedetabusquefazemcom queessas definic¸õesintegremfrequentementejulgamentos morais,nãosetratando,porisso,dedescric¸õesneutrasdesta ac¸ão7,8.Tambéméclaroqueaconceptualizac¸ãodosuicídio
nomundoocidentaltemsidoinfluenciadaporcrenc¸as espi-rituais,culturais,científicasemédicas,equeestas2últimas sãomodeladasporforc¸associais,tendovariadonotempoe noespac¸o9.
O séculoXIXeoiníciodoséculoXXsão apontadospor vários autores6,7,10 como marcos relevantes na história do
pensamentosobreosuicídiodevidoaváriosfatores,asaber, a emergência da psiquiatria como disciplina autónoma, o estabelecimentodosuicídiocomoumsintomadedoenc¸aou desordemmental,eotrabalhodesociólogosondesemostrou queo suicídioestá ligadoaforc¸ascoletivasereflete males associadosàsmudanc¸associais(e.g.anomia,alienac¸ão11),ou
amotivosecircunstânciasindividuaisdependentesda estru-turasocial,crenc¸asecostumes12.
Umeoutrodesenvolvimentoestãonabasedavisãoatual do suicídiocomo umato humanoinvoluntário enão deli-berado, causado por forc¸as sociais impessoais e/ou forc¸as psicológicas10, visões que, de alguma forma, contribuíram
paraatenuarassanc¸õessociaisemoraissobreosuicídioe apessoasuicida13.
ParaBattin14,omodelomédico,segundooqualosuicídio
écausadoporprocessospatológicosinternosaoindivíduo– equeporissorequerintervenc¸ãoetratamentoespecializadoe profissional–continuaadelimitareadominarnosdiasdehoje odiscursopúblicosobreaquestão,fazendocomqueasdemais perspetivas,comoporexemploasfilosóficas15,passempara
segundoplano,ousejamefetivamentedesconsideradas16.No
entanto,nasúltimas2décadas,osprogressosnatecnologia médica eaemergênciade gruposde defesadosinteresses dos doentesparecem ter reaberto as discussões filosóficas emtornode2categoriasparticularesdemorte–osuicídio assistidoeaeutanásia7.Acobertura mediáticacontinuada
dadaavárioscasosdepessoasquereclamamo«direitode morrer», em virtude deum sofrimentofísico irreversível e frequentementeterminal,temlevadoaqueodebatepúblico ultrapasseodomínioprivilegiadodamedicinaeaoqueparece serumasimpatiacrescentecomacausa.Todavia,atendência paraatitudesmoralmentemaispermissivasfaceaoscasosde «suicídioracional»(emdoenc¸afísica,estadosterminaisoudor crónica)nãoincluioscasosdepessoascomdoenc¸amental10.
Marsh6 argumenta que o suicídio e as ac¸ões suicidas
são agoraquase sempreexplicadaspor referênciaa desor-dens mentais individuais ou processos,uma condic¸ãoque ele descrevecomo uma «patologiaontológica compulsiva». Nestequadro,oriscoeapatologiasãocompreendidoscom estandolocalizadosnoindivíduo.Emboraatualmenteo sui-cídiosejaumobjetodeestudomultidisciplinar,naverdade, agrandepartedainvestigac¸ãoproduzidanas2últimas déca-dassobreosuicídioédenaturezaempíricaeestudao«papel de causas prováveis e fatores de risco do comportamento
suicida»9,17. Destacam-se, neste contexto, as investigac¸ões
sobrea etiologia conduzidasno quadro deteorias psicoló-gicas,neurobiológicas,daepidemiologiapsiquiátricae,mais recentemente,nagenéticacomportamental9,18.Todosestes
trabalhosacentuamos fatoresde riscoaonível individual, umpostuladoemharmoniacomoparadigmadominantena produc¸ãodasaúdeenaprevenc¸ãodadoenc¸a19.
A OMS20 define o suicídio como o
«ato de deliberada-mentese matar asi mesmo»einclui nos fatoresde risco paraosuicídioasperturbac¸õesmentais,comoadepressão ouaesquizofrenia,oabusodebebidasalcoólicas,ealgumas doenc¸as físicas, como perturbac¸õesneurológicas, cancro, e infec¸ãoporVIH-Sida.Asestatísticasda OMSestimamque, anualmente,hajacercadeummilhãodesuicídiosnomundo. No entanto, o fenómeno do suicídio poderá estar sub-representadoeo problema«deverá serbemmaisgrave na Europa, emuito particularmente em Portugal,do que atu-almentereconhecido»21. Porcontabilizarficam, segundoos
autores,asmortesporcausadesconhecidaeasmortes vio-lentasde intenc¸ão indeterminada,para além de «suicídios mascarados»,comoasmortesporacidenteouporoverdose. OPlanoNacional de Prevenc¸ãodoSuicídio, publicado pela Direc¸ão-GeraldeSaúde(DGS),tambémreferequeestese cons-tituicomo«umfenómenoreconhecidamentesubdeclarado», porser«umamortefortementeestigmatizadaporrazõesde ordem religiosa, sociocultural e política»22. Deste modo, e
umavezqueosnúmeros oficiais nãorefletem arealidade, aDGS afirma que «a verdadeira dimensão dofenómeno é desconhecida».
Nomesmodocumento,lê-seque«desdequeháregistos oficiaisde taxasde suicídioemPortugal,estetem-se cara-terizadoporpredominarentreapopulac¸ãoidosaesermais marcadonaregiãosul».
Oorganismoresponsável peladivulgac¸ãodeestatísticas naUniãoEuropeia(EU),oEUROSTAT23,refereque,emborao
suicídionãoseja umadasprincipais causasde morteeos dadosparaalgunsdospaíses-membrosdaUEpossamestar sub-representados, geralmenteconsidera-se queeste éum indicadorimportanteequedeveseravaliado.Emmédia,lê-se, houve9,4mortespor100.000habitantesresultantesde suicí-diosnos27paísesdaUE,noanode2010.EmPortugal,amédia para2010foide8,2suicídiospor100.000habitantes,sendoque ataxadesuicídiosémaisaltanoshomens(13,5)doquenas mulheres(3,8).Quandoolhamosparaadistribuic¸ãodo suicí-dioporfaixasetárias,ogrupodos85oumaisanosconcentraa taxamaiselevada(38,4),seguidodogrupodosindivíduosentre os50-54anos(13,1)e,porfim,aquelesdos15-19anos(2,5).Os dadosrelativosàmédiapara2010,quandocomparadoscom osrelativosa1939,anoemqueataxadesuicídioatingiuoseu valormáximonoperíodocompreendidoentre1902-2000em Portugal,com12,8suicídiospor100.000habitantes,émenor, masseacompararmoscomovalorde5,1óbitospor100.000 habitantesnoanode2000,poderemosperguntar-nosse esta-rãoemcausaastendênciasdeumaquebrageneralizadano númeroenastaxasdesuicídiogeraisedapopulac¸ãoativa verificadanosanos9024.
Olhandoparao problematendocomo referênciaaética médica, o código deontológico da profissão refere que«ao médico é vedada a ajuda ao suicídio, a eutanásia e a distanásia»(artigo57◦,n.◦2)25.
Osmediaeosuicídio:impactoerepresentac¸ão
Agrandepartedosestudossobreosmediaeosuicídio ana-lisaramoimpactodosmedianosuicídio,nomeadamentese asnotíciasdesuicídiopodemconduziràimitac¸ão.Os inves-tigadores australianosPirkiseBlood26 fizeramumaanálise
sistemáticade42estudosdestetipo,concluindoqueháuma associac¸ão causal entre as notícias de suicídios eo efeito de imitac¸ão. Adicionalmente, Gould et al.2 referem que a
literaturacomprovaoimpactodosmediano «contágio”dos suicídios», que pode ser entendidono âmbito docontágio comportamental,ouseja,umasituac¸ão naqualo compor-tamentosealastrarápidaeespontaneamentenumgrupo2.
Umoutroestudoreferequeasexplicac¸õesparaocontágio dos suicídios através da imprensa centram-se na capaci-dade que os media têm de chegar a vários segmentos da populac¸ão,aumentandoashipótesesdequeaquelesqueestão vulneráveis ao suicídio sejam influenciados pela cobertura mediática27. JanePirkisafirma queo
«efeito deWerther»é real e queas representac¸õesdo suicídionos mediapodem conduziracomportamentosimitativos28.Estesestudos
apre-sentamdadosquesugeremquecertasformasdeapresentar eretratarosuicídiopodemlevaràimitac¸ãoemindivíduos vulneráveis,masnãofornecemdadosquecomprovem real-menteessaalegadaligac¸ãodecausaeefeito.Alémdisso,os modelosteóricosqueexplicamcomoosmediapodem influen-ciaroscomportamentossuicidassãoescassos29.Aliás,como
bemsabemosestudiososdecomunicac¸ãonosmedia,a cha-madateoriahipodérmicadosefeitoséumahipótesequepeca pelaexcessivasimplificac¸ãodeumfenómenoemtudo com-plexocomoéodainfluênciadosmedianoscomportamentos individuais.
Paraalémdosestudoscentradosnoimpactoenainfluência queacoberturamediáticapodeternocomportamento sui-cida,háoutrosquesecentramnotratamentoqueosmedia dão aos temas (suicídioe tentativasde suicídio), podendo incluir-seaquiumapreocupac¸ãocomadimensãoéticadesta cobertura29.
Um estudo desenvolvido na Nova Zelândia refere que, emboraosuicídiogeralmentetenhavalor-notícia,as carate-rísticasdosuicídiorelatadasnosmediamuitasvezesnãosão representativasdossuicídios napopulac¸ão30.O estudoem
questãodebruc¸a-sesobreoframingdasnotíciassobresuicídio naNovaZelândia,focando-senaformacomoossuicídios rela-cionadoscomambientesonlinesãoenquadradospelosmedia. O grupodeinvestigadoresconcluique ofocoprincipal das notíciaséatecnologiaonline,enãoosuicídioemsi.Atítulo deexemplo,umdoscasosapresentadosnoartigoéodeum homemquecometesuicídioaomesmotempoqueéfilmado porumawebcam,difundindooconteúdoonline.
Osmesmosautoresdeclaramqueossuicídiosquemais atraemaatenc¸ão dosmediasão atípicosefora docomum, emborasejamrepresentadospelosmediacomo típicos.Esta situac¸ãopodelevaraumafaltadeinformac¸ãoemrelac¸ãoa estóriasdesuicídio,bemcomoaumabanalizac¸ãodoassunto. Outrodosriscos emrelac¸ão àmediatizac¸ãodosuicídioéa simplificac¸ãolevadaacabopelosmedia,quetendema gene-ralizardemasiadoascausasdosuicídio30.Defacto,osmedia
porvezesindicamcomocausaparaosuicídioumúnicofator, comoacrisefinanceiraouosdivórcios–osautoressublinham
queacausamaiscomumparaosuicídioéadoenc¸amental, quegeralmenteépostadeladopelosjornalistas.
Masestesestudos,quesecentramnaextensãoena natu-rezadareportagemmediáticasobreosuicídio,sãoemmuito menornúmero31.Porissomesmo,importaanalisaro
fenó-menonasnotíciasparaperceberotipoderepresentac¸õesque osmediafazemdosuicídio.
Paraumacoberturaresponsáveldosuicídionosmedia
A OMS lanc¸ou,em 1999, o SUPRE, umainiciativa mundial paraa prevenc¸ão dosuicídio.Como partedesseprograma, publicou, em 2000, um guia dirigido a profissionais dos media32.
No guião da OMS pode ler-se que «noticiar o suicídio deumaforma apropriada,cuidadosaepotencialmente útil poderáprevenirtrágicasperdasdevidaporsuicídio»32.Deste
modo,aOMSentendequenãoéacoberturadosuicídioemsi mesmaquepodepromovercomportamentossuicidas, mas simomodocomo essacobertura éconduzidapelos media. AOMS apresenta algumas pistaspara os profissionais dos media,alertandoparaainterpretac¸ãocuidadaecorretadas estatísticas e o uso de fontescredíveis e autênticas. Ape-sar dosconstrangimentos de tempo,lê-se, os comentários devemserfeitoscomcuidado,bemcomoasgeneralizac¸ões. Em termos de recomendac¸ões concretas, aOMS considera que«a cobertura sensacionalistade suicídios deveser evi-tadaatodoocusto,particularmentequandoestáenvolvida umacelebridade»edeveevitar-seacoberturapormenorizada. Destemodo,«devemserevitadososdetalhesdosmétodos uti-lizadosedecomoforamproduzidos»,eojornalistadeveter cautelanacobertura,deformaaevitarabanalizac¸ãodo sui-cídio.AOMSrealc¸aaimportânciadosmediaenquantoagente ativo naprevenc¸ão do suicídio, publicando sinais de aviso decomportamentossuicidasedisponibilizandoinformac¸ão sobreaajudadisponível.Osmediadevemaindatransmitira mensagem«dequeadepressãoestágeralmenteassociadaao comportamentosuicidárioedequeadepressãoéumadoenc¸a tratável».Osuicídionãodeveserreferidopelosmediacomo «bem-sucedido»,antescomo«consumado».
Aautoraaustraliana JanePirkisreferequeaAustrália é umdospaísescomumaestratégiamaissistemática relati-vamente àprevenc¸ão dosuicídio, tendodesenvolvido uma iniciativachamada«MindframeNationalMediaInitiative»28,e destacaanecessidadedeosprofissionaisdasaúdementaleda prevenc¸ãodosuicídiotrabalharememconjuntocomosmedia. Umestudodeinvestigadoresneozelandesesdestacao reco-nhecimentodosuicídiocomoumproblemadesaúdepública naNovaZelândiaeosesforc¸osdesenvolvidosparaoprevenir, nomeadamenteacriac¸ãodeguidelinesparaosmedia30.
EmPortugal,olivrodeestilodaagênciadenotícias por-tuguesa refereque «aLusa não noticiasuicídios anão ser quea divulgac¸ão dessasocorrências serevista de relevân-ciapública»33.Nenhum outromanualde estilodosjornais
portuguesesserefereemparticularaofenómenodosuicídio. Noentanto,oCódigoDeontológicodosJornalistas34defende
queojornalistadeve«proibir-sedehumilharaspessoasou perturbarasuador»,devendorejeitarqualquertipode sensa-cionalismo.Emboranãohajareferênciasdiretasaosuicídio, existe um código implícito nas redac¸ões, segundo o qual
devehavercautelanacoberturadesuicídiospeloreceiode imitac¸ão.
O Plano Nacional para a Prevenc¸ão do Suicídio, publi-cado pela DGS para o quinquénio 2013-2017, refere tam-bém como objetivo a sensibilizac¸ão dos media «para a necessidade de aplicac¸ão dos princípios definidos para a informac¸ão/descric¸ãodecomportamentosautolesivoseatos suicidas».Lê-seaindaque«osmediapodemajudarou dificul-tarnaprevenc¸ãodosuicídio,consoantepromovamaeducac¸ão públicaouaumentemavisibilidadedosuicídio apresentando-ocomoumasoluc¸ãoparaosproblemasdavida»22.
Vários organismos internacionais desenvolveram recomendac¸ões para os jornalistas, aconselhando sem-pre uma cobertura «responsável» do suicídio. Isto implica teratenc¸ãoaodestaquedadoàestória,àtitulac¸ão sensaci-onalistaeàsdescric¸õesdetalhadasdométodoseguido27.Os
autores sublinham que o propósito destas recomendac¸ões nãoé«desencorajaracoberturadosuicídio»,mas«aproveitar aoportunidadeparaeducarospúblicosparaotratamentoe opc¸õesdeajuda»,bemcomo«desfazeralgunsmitossobreo suicídioquepossamdesencorajaraprocuradeajuda»27.
Ateoriadoframing:queânguloparaasnotícias?
Estudarasrepresentac¸õesqueosmediapromovememrelac¸ão aosuicídioimplicapensarnateoriadoframingdasnotícias, ouseja,olharparaoenquadramentodadopelojornalistaa determinadapec¸anoticiosa.
SegundoEntman35,enquadraréselecionaralgunsaspetos
doquesepercebeserumadeterminadarealidadeetorná-los maissalientesnumtexto,deformaapromoverumadefinic¸ão doproblema,interpretac¸ãocausal,avaliac¸ãomorale/ou tra-tamento ou recomendac¸ão particulares. Esta atividade de selec¸ãodedeterminadosatributosdeumcertoacontecimento ouassunto,edeatribuic¸ãodeumamaiorrelevânciaaos mes-mos,emdetrimentosdeoutrosaspetos,é,segundoEntman35,
umamarcadepoder.Por2razões:sinalizaaidentidadedos atores ou grupos de interesse que conseguiram incluir as suasvisõesnorelatodoevento;restringeainformac¸ãoque opúblicotemsobreumdeterminadoassuntoe,maisdoque isso,restringeomodocomoopúblicopensasobreomesmo.É poisclaroqueestaatividadedeenquadrar,istoé,selecionare darprioridadeadeterminadosaspetosemprejuízodeoutros, indicadequeotrabalhojornalísticonãoésimplesmenteode transmitirinformac¸ão,massimodereconstruir,noquadro dedeterminadasfronteiras,omundosocial36.
McCombs olha para o framing como uma «segunda dimensão»doagendasetting,umaextensãodesteprocesso.No entanto,outrosautores,nomeadamenteIyengareSimon37ou
Scheufele38,entendemoframingcomoumapartedoagenda setting.Onorte-americanoT.MichaelMaher,numartigo dedi-cadoapensaroframing,questionaseasdiferentesperspetivas quealgunsautoresapresentamdesteprocessoterãoporbase conceitosdistintosdeframing39.Oautorrelembraque,em
ter-moshistóricos,oframingeoagendasettingtiveramtrajetórias opostas.Osegundoníveldeagendasettinganalisa«aforma como acobertura mediáticaafeta aquiloemque opúblico pensaecomo pensa»,lidandocomascaraterísticas especí-ficasdeumassuntoecomamaneiracomoesta«agendade atributos»influenciaaopiniãopública40.Osegundonívelde
agendasettingtem,noentanto,consequênciasquevãopara alémdasimagensqueseformamnasnossascabec¸as41.
Omodocomoumassuntoéexploradopelosmedia influ-enciaaformacomoopúblicopensasobreesseassunto,ou seja,acoberturamediáticaafetaaimportânciadesseassunto naagendapública.Ditodeoutramaneira,osegundonívelde agendasettinglidacomoimpactoqueosframes(ouângulos) dasnotíciastêmnaagendapública40.
Num artigosobre aconvergência doagenda settinge do framing,McCombseGhanem41 defendemqueajunc¸ãodos
2conceitosnumúnicoquadroteóricounificadoseriaútilpara umamaiorcoesãodoconhecimentorelativamenteaomodo comoosmediaformam asimagensdomundoedecomoo públicorespondeaessasimagens.
Nofundo,«aprincipaldiferenc¸aentreainvestigac¸ãosobre frameseaqueseocupadosegundoníveldeagendasettingé queestaúltimaanalisaoimpactoqueosframesdasnotícias têmnaagendapública,enquantomuitosestudosdeframing ocuparam-seapenasdosframes»40.
Metodologia
Este trabalho – desenvolvido no âmbito de uma tese de doutoramentosobrea mediatizac¸ãodasaúde naimprensa portuguesa–pretendeestudaraformacomoofenómenodo suicídioénoticiadonosjornaisportugueses,atravésda aná-lisedasnotícias.
Procedemosaumaanálisequantitativadasnotícias, recor-rendoaoprogramadeanáliseestatísticade dadosStatistics PackageforSocialSciences(SPSS),centradaem2eixosde aná-lise.Posteriormente,ostextossobresuicídioforamanalisados deformamaispormenorizada,comrecursoàstécnicase fer-ramentasdaanálisecríticadodiscurso.
A nossaanálise inclui os jornaisgeneralistas nacionais Expresso,Sol,Público,JN,DNeCorreiodaManhã–2 sema-náriose4diários.Aescolhadestes jornaisjustifica-sepelo seucarátergeneralistaenacional;aamostraescolhida (não-probabilística)apresentaaindadiferenteslinhaseditoriaise periodicidades,umavezquenãosabemosseestescritérios poderãoinfluenciaraqualidadedainformac¸ãoprestadaem saúde.Destemodo,estaéumadashipótesesquequeremos testar numa fase posterior do nosso trabalho de doutora-mento.
Aanálisecompreendeoperíodoentrejaneiroedezembro de2013,sendoqueomêsdeagostonãoécontabilizadopor serpornósconsideradoummêsatípicoemtermos noticio-sos.Destemodo,ocorpus deanáliseincorporaumtotalde 30notíciasquemediatizamosuicídio.
Arecolhade dadosfoiefetuada comrecursoàsversões impressas – em formato digital – dos cadernos principais dos jornais, sendo que são escolhidas as versões Lisboa ou Nacional dos periódicosselecionados, quando existam, excluindo-seassecc¸õesdeLocal(noPúblico)ouPorto(noJN), deDesportoedeCultura.
No nosso estudo, a análise das notícias sobre suicídio divide-seem2níveis,sendoqueoprimeironospermite cara-terizarotipodetextoquesepublicanaimprensaportuguesa quandosefaladesaúde;eosegundoémaisvoltadoparaa análisedas fontesde informac¸ão nestecampo.O primeiro
níveldeanáliseéconstituídopor12variáveis:anodeanálise, data,jornal,título,doenc¸a,tipodeartigo,motivodenoticiabilidade, tempodanotícia,tamanho,lugardanotícia,presenc¸aenúmerode fontes deinformac¸ão.O segundonível deanáliseéreferente àsfontesdeinformac¸ão.Queremossaberqueméchamado afalarquandosenoticiaestetópiconaimprensageneralista, deonde vem,equecargoocupa,entreoutros.Olhamosas fontesdeinformac¸ãopelopontodevistadoleitor,umavez quenosimportaavaliarseacitac¸ãodefonteséfeitadeforma precisaepercetívelaopúblicoemgeral.Importaainda refe-rirqueoinvestigadornãotransportaparaaanálisedosdados osconhecimentospréviosacercadedeterminadoindivíduo, deformaaperceberasfalhasexistentesnaidentificac¸ãodas fontescometidaspelojornalista.Asfontessãocaracterizadas quantoàsuageografia,tipodefonte,identificac¸ão,estatutoe especialidademédica(quandoaplicável).Oestatutodas fon-tesdeinformac¸ãoéencontradoapartirdeumatipologiapor nóscriadaequenospermitesaberseestamosalidarcom fontesoficiais,especializadasououtras.
Parapercebermosqualoângulo deabordagemutilizado pelos jornalistas portugueses quando o suicídio é notícia, olhamos atentamente para os textos e, tendo como refe-rênciateórica o framing das notícias,fazemos umaanálise detalhadadosmesmos.Asteoriasdoframingdasnotícias dis-ponibilizampoucainformac¸ãosobremétodosespecíficosde análise.Muitadainvestigac¸ãorealizadatemusadométodos de análisequantitativos42.Todavia,são bemconhecidasas
definic¸õesdeEntman35edeGamsoneModigliani43relativas
àoperacionalizac¸ãodoframingnaanálisedetextos jornalís-ticos.Entman35referequeosframesnasnotíciaspodemser
identificados eexaminadospela «presenc¸aou ausência de certaspalavras-chave,frasesfeitas,imagensestereotipadas, fontesdeinformac¸ãoefrasesque,pelasuatemática,reforc¸am grupos de factos ou julgamentos». Gamsone Modigliani43,
por sua vez, identificam framing devices que condensam a informac¸ãoeoferecemomediapackagedeumassunto.São eles: metáforas, exemplos, frases sonantes (catch-phrases), retratoseimagensvisuais.Paraalémdorecursoaestes fra-mingsdevices,tambémalgunsestudosempíricoscombinama análisedestesmeioscomumaanálisedas4func¸ões identi-ficadasporEntman35:
«definic¸ãodoproblema,interpretac¸ão causal,avaliac¸ãomoralerecomendac¸ãooutratamento».
Hátambémquem,deumaformadedutiva,trabalhecom tipologiasdeframesnoticiososjáexistentes,comopor exem-plo a de Vreese44 que propõe uma distinc¸ão entre frames
genéricos,istoé,comunsaváriosassuntos,equesão estru-turais e inerentes às convenc¸ões do jornalismo, e frames específicosacertosassuntos.Nogrupodosframesgenéricos, Vreese44destacaadistinc¸ãopropostaporIyengarentreframes episódicos(limitaroretratodeassuntossociaisaeventosem jeitodeilustrac¸ão)eframestemáticos(colocaroseventosnum contextointerpretativomaisvasto)eatipologiadeSemetkoe Valkenburgdos5framesnoticiosos:conflito,interessehumano, atribuic¸ão da responsabilidade,moralidade e consequências eco-nómicas.Oframeconflitoenfatizaoconflitoentreindivíduos, grupos,instituic¸õesoupaíses;odointeressehumanodáuma facehumanaouconfereumânguloemocionalàapresentac¸ão de um evento, assunto ou problema; o da responsabilidade apresentaumassuntodeformaaatribuirresponsabilidade (relativa a causas ou a resoluc¸ões) a algum atorsocial ou
Tabela1–Títulosemnotícia(%)
Títulos Jornais
Público Expresso JN DN CorreiodaManhã Sol Total
Positivo(%) 10 0 3 0 0 0 13
Negativo(%) 13 0 20 13 7 0 53
Neutro(%) 17 3 7 7 0 0 34
100
indivíduo; o moral interpreta o assunto ou evento no con-textodepreocupac¸õesreligiosasouprescric¸õesmorais,eo deconsequênciaseconómicasapresentaoeventoemtermosdas consequênciasqueteráparaindivíduo,grupo,instituic¸ão, reli-giãooupaís44.
A análiseque apresentamos resulta de umtrabalho de explorac¸ãodetalhadadostextos,ondeseprocurouarticular os aspetos referidos da teoria do framing com instrumen-tosteóricosemetodológicosfornecidospelaanálisecrítica dodiscurso4,5.Destes,destacamososseguintes:aanáliseda
estruturaesquemáticadasnotícias,istoé,daorganizac¸ãoda informac¸ãocontidananotíciaedadistribuic¸ãodasua impor-tâncianumaordemhierárquica,dandoatenc¸ãoparticularaos títulos, aos leads eaos tópicos neles apresentados; a aná-liseda escolhadas palavras usadaspara designar atores e ac¸ões;aanálisedascitac¸ões(escolha,conteúdose argumen-tos)eaanálisedosmeiosretóricosusados,dandoparticular relevoàsmetáforas45,46.Aindaquedeformasucinta,
incluí-mos nesta análise uma referência à dimensão visual do discurso.
Comestesinstrumentos,fazemosumaidentificac¸ãodos frames especificamente usados na cobertura do suicídio e damos conta das suas func¸ões nos termos sugeridos por Entman35.
Análise
e
discussão
dos
resultados
QuandoosuicídioénotíciaAolongode2013,são30osartigossobresuicídiopublicados nosjornaisemanálise.Omaiornúmerodeartigosfoi publi-cadopelojornalPúblico(12);seguidodoJNcom9textos;do DNcom6;doCorreiodaManhãcom2;e,porfim,doExpresso, comumtextosobreofenómeno.OsemanárioSolnão apre-senta,noperíodoemanálise,qualquerartigonoticiososobre osuicídio.
Os títulos(tabela1)são, nasuamaioria,negativos (ron-dandoos53%),sendoqueapercentagemdetítulospositivos emtextosqueretratamosuicídioédiminuta(13%).Ogénero jornalístico privilegiadoé anotícia,querepresenta 97%do totaldoscasos.Háapenasumaentrevistasobreosuicídioao longode2013,publicadapelosemanárioExpresso,sendoque nãoexistemreportagenssobreoassunto.Trabalhos anterio-resjátinhamdemonstradoqueojornalismodesaúdesefaz essencialmentecomrecursoaogénerodenotícia, menospre-zandoaentrevistaeareportagem47.Osuicídioé,geralmente,
retratadoapartirdetextosextensos(60%doscasos), repre-sentandoumaexcec¸ãorelativamenteaojornalismodesaúde emgeral.
Quandoolhamosparaosmotivosdenoticiabilidade(tabela 2) dostextos sobresuicídio, verificamos queos jornalistas privilegiam os retratos de situac¸ão (com 40% dos artigos). Oângulodedicadoàprevenc¸ãosegue-seaodosretratosde situac¸ão, com maisde 15% doscasos. Os restantes temas abordados nos artigos sobre suicídio são a investigac¸ão e desenvolvimento(13%),assituac¸õesdealarmeerisco,as sus-peitasdenegligênciaoupráticasilícitaseasdecisõespolíticas –queocupam,todaselas,10%dototaldecasos.
Quantoaotempodanotícia,ostextosquefazemumponto desituac¸ãosãoosmaisfrequentes(37%),seguidosdosartigos quesereportamaodiaanterior(27%).
À semelhanc¸a daquilo que acontece no jornalismo de saúde emgeral47, os textosnoticiosossobreo suicídiosão
construídostendocomolugaronacionalglobal,ouseja,são textosdesenraizadosdeumlugarespecíficoequepretendem apresentarumavisãoglobalsobreofenómeno(tabela3).A regiãodagrandeLisboaocupamaisde15%dostextos,seguida das regiõesdo norte ecentro(cada umacom 7%),e Alen-tejo(3%).Apenasumdosartigostemcomolugardanotícia aEuropa,oquerepresenta3%dototal.
Debrucemo-nosagorasobreasfontesdeinformac¸ão,que constituemumdoseixosdominantes donossotrabalho.A este nível, apenas um dos textos não cita qualquer fonte.
Tabela2–Motivosdenoticiabilidade(%)
Motivosdenoticiabilidade Jornais
Público Expresso JN DN CM Sol Total
Investigac¸ãoedesenvolvimento(%) 7 0 7 0 0 0 14
Prevenc¸ão(%) 10 0 7 0 0 0 17
Retratosdesituac¸ão(%) 10 3 13 13 0 0 39
Situac¸õesdealarmeerisco(%) 7 0 0 3 0 0 10
Práticasclínicasetratamentos(suspeitadenegligência/práticasilícitas)(%) 0 0 3 0 7 0 10
Políticas:decisões(%) 7 0 0 3 0 0 10
Tabela3–Lugardanotícia(%)
Lugardanotícia Jornais
Público Expresso JN DN CM Sol Total
Nacionalglobal(%) 30 3 13 18 0 0 64
Norte(%) 0 0 7 0 0 0 7
Centro(%) 0 0 3 3 0 0 6
LisboaeValedoTejo(%) 7 0 3 0 7 0 17
Alentejo(%) 3 0 0 0 0 0 3
Europa(%) 0 0 3 0 0 0 3
100
Tabela4–Tipodefonte(%)
Tipodefonte % Pessoal Masculina 55 Feminina 4 Coletiva 5 Nãopessoal Individual 27,5 Coletiva 6 Nãoespecificado 2,5 100
Tambémaquisecomprovamtendênciasjáverificadasem tra-balhosanteriores48.Destemodo,90%dasfontescitadaspelos
jornalistassãoidentificadas.Referimo-nos,destemodo,a fon-tesdeinformac¸ãoemrelac¸ãoàsquaisconhecemosonomee ocargoqueocupam.Asfontesnãoidentificadassãoaquelas emrelac¸ãoàsquaisnãosabemosonomemasconhecemoso cargoocupado,ouvice-versa(eestasocupam10%dototal).A análisedenotíciassobreosuicídiomostra-nosquenãohouve recursoafontesanónimas,isto é,dequemnada sabemos. Quase60%dasfontescitadasfalamàescalanacional,sendo queasrestantesfontesdeinformac¸ãosãoprovenientes do norte,centroeLisboaeValedoTejo(cercade9%paracada umadasregiões)eAlentejo(cercade4%).Umapequena per-centagemdasfontesdeinformac¸ãocitadasnostextosfalaa partirdaEuropaousãointernacionais.Asfontescitadasnos artigosemanálisesãomaioritariamentepessoais(tabela4),
sendoqueasmasculinaspredominamclaramenteemrelac¸ão àsfemininas.Seguem-seasfontesnãopessoais,que represen-tam34%dototal.
Oestatutodasfontes(tabela5),percebidoatravésdeuma tipologiapornóscriada,émaioritariamenteoficialdentrodo campodasaúde.Queristodizerque20%dasfontescitadas nosartigosqueretratamosuicídiosãooficiaisepertencemà áreadasaúde,comoéoexemplodoDiretor-GeraldaSaúde oudopróprioministrodaSaúde.Asfontesdocumentais tam-bémtêmbastanteexpressãonanossaanálise,representando 29,5%dototaldefontescitadas–incluem-seaquios diplo-masgovernamentaisouestudos,dentroeforadocampoda saúde.Poroutrolado,ocidadãocomum(enquantopacienteou potencialutilizadordosservic¸osdesaúde)éempurradopara asmargensdesilêncio(com7,5%).Asfontesespecializadas naáreadasaúde,comesemcargos(institucionaisenão ins-titucionais),representam15e14%,respetivamente.Nocaso particulardamediatizac¸ãodosuicídio,sãoasfontesdentro docampodasaúdeasquemaisespac¸oocupamnasnotícias. Emrelac¸ãoaosmédicos,osjornalistasescolheramdarvozaos psiquiatras(82%)eaospsiquiatrasdainfânciaeda adolescên-cia(18%).ÉoPúblicoojornalquemaisrecorreaestetipode especialistas,seguidodoJNedoDN.
Aabordagemdosuicídio:discursoserepresentac¸ões
Osuicídioenquantofenómenopúblico
Duranteoanode2013,aimprensaabordaaquestãodo suicí-diosob3ângulos:
Tabela5–Estatutodafonte(%)
Estatutodafonte Jornal
Público Expresso JN DN CM Sol Total
Campodasaúde
Oficial(%) 14 0 4 2,5 0 0 20,5
Especializadainstitucional(%) 9 0 1,3 5 0 0 15,3
Especializadanão-institucional(%) 6,3 1,3 5 1,3 0 0 13,9
Sites/blogues(%) 1,3 0 1,3 0 0 0 2,6
Foradocampodasaúde
Especializadainstitucional(%) 2,5 0 0 1,3 0 0 3,8
Especializadanão-institucional(%) 4 0 0 0 0 0 4
Documentos(%) 12,5 0 8 9 1,3 0 30,8
Sociedade(pacientesecidadãocomum)(%) 1,3 0 4 0 2,5 0 7,8
- enquantofenómenopúblico;
- enquantoobjetodeac¸ãopreventivainstitucional; - enquantoac¸ãoindividual.
Enquantofenómenopúblico,osuicídioéretratadocomo algo que está a causar cada vez mais mortes no seio da populac¸ãoportuguesa.Aênfaseépostananatureza surpre-endenteeextraordináriadesseaumento,porumlado,eno caráterencoberto,misteriosoesimultaneamenteameac¸ador, porquenão«realmente»conhecidoecompotencialde cres-cimentoedepropagac¸ãodessealgo,poroutro.Osuicídioé assimconcebidocomo umaentidadeque mata,que mata maisdoqueaquiloqueestácontabilizadoeque,alémdisso, põeemriscoosvivos.Quemmorreporessacausa,ouestá «emriscode»,écolocadocomosujeitopassivosemforc¸ase sempotencialdeac¸ão,emsuma,nopapeldevítima.
Estessignificadosresultamdaopc¸ãoderepresentaraquilo queéumprocesso,umaac¸ãoautoinfligida–matar-se–porvia deumnome(«suicídio»),comosefosseumacoisa,ede simul-taneamenteconceptualizaressacoisaemtermoshumanos, comosefosseumaentidadecomvida,uminimigoquenos põeemriscoepodematar,dequedãocontaexpressõescomo «morteprovocadapelosuicídio»,«osuicídiomata»,«riscode suicídio»,«morrerporsuicídio»,«emriscodesuicídio».
Osjornaisalertamosleitoresparaesseperigo,mas simul-taneamentetranquilizam-nos.Escolhemfazê-lopor2formas: circunscrevendooperigoadeterminadosgrupos–homens, mulheres,idosos,adolescentes,adultosmaduros–,condic¸ões económicas–desemprego–eregiões;representandoo suicí-diocomoobjetodeac¸õesde«combate».
Oexercício dedelimitac¸ão dofenómeno,de trac¸aruma fronteiraemtornodomesmo,faz-seporviadaidentificac¸ão de«umperfildasvítimas»,atuaisepotenciais,econcretiza-se nasac¸ões deexplicar ealertar.O trac¸odas vítimas desta-cadodeforma sistemáticaecontinuadaéoestadomental, a«saúdemental».Todasasnotíciasqueexploramdeforma temáticao«aumentodossuicídios»ouo«aumentodas tenta-tivasdesuicídio»(masnãoapenasestas, comoiremosver) estabelecem, de forma mais ou menos direta, associac¸ões entresuicídioepessoasnumestadomentalparticular (sobre-tudo«depressão»,«desespero»,«solidão»,mastambémcom «problemasmentais»ou«doenc¸asmentais»).Semprequese faladoaumentodosuicídiosoboânguloda mortalidade– quantaspessoassematam,aquegrupopertencem–neste tipodeartigostambémsefaladosuicídiosob oângulodo riscoquerepresentaparaosvivos.Massóparaalguns.Neste âmbito,osuicídioéconceptualizadocomoresultadodeum problemainterno,privado,individualizadodequesãovítimas «ossuicidas»,umproblemaque,apesardeinterno,se mani-festadedeterminadasformas(«sinaisdealerta»),cujosefeitos –osuicídio–podem,portanto,serimpedidosouprevenidos.É representado,portanto,comoconsequênciaouefeitodeuma patologiamentalvividaporalguns.Masérepresentado tam-bémcomomotor,forc¸aqueameac¸aoucolocaemriscopessoas quesofremdedepressão,estãodesesperadasousofremde solidão.Emambososcasos,osuicídioéassociadoapessoas comperturbac¸õesmentais:sãoestasqueselevamao suicí-dio;sãoestasquesãoapontadascomo«fatorderisco»mais importante.
Estarelac¸ãopodeassumirváriasformasemnotícias con-cretas.Amaisfrequenteconcretiza-senorecursoexclusivoa umlequerestritodefontes–dasaúdemental,dasuicidologia edasaúdepública–edeformasdeasdesignar,atravésdas quaissesalientaocaráteroficiale/ouespecializadodasfontes, emprestandoassimacredibilidade(vistacomo)necessáriaàs explicac¸õesoferecidas.Destacam-setambémoutros2tiposde recursos,ambosdenaturezavisual:aescolhadasfotografias queintegramestesartigostemáticos,atravésdasquaissedá umafaceaosatoresreferidosnostítulosdoartigoemcausa, e/ounalegendaqueacompanhaasfotos(«INEMsocorrecada vezmaispessoasdesesperadasquetentamsuicídio»,DN,21 defevereiro;«Isolamentoéumdossinaisdealertaaterem contaparaquemcostumaapresentardesânimoconstante», JN, um de outubro; «Pedopsiquiatras dizem que tentativas desuicídiodosadolescentesestãoaaumentarcomacrise», Público, 18denovembro)e,nocasodoDNedoJN,porvia dodestaquevisualdadoaosconteúdosreferentesaos«sinais dealerta»,apresentando-osemcaixa,meioatravésdoqual o«estadoderisco»imputadoaessesatoressetornavisível, concretoepodeserdescobertoouidentificado.
Destaforma,osuicídioélocalizadoempessoaseem gru-pos, funcionandoestes como um contentor. Esta metáfora espacialtemoefeitodetranquilizarosleitoresporquecriaum escudoprotetor,umaespéciedecordãosanitárioqueos pro-tege,distanciando-osdesserisco,masdesumanizaquemse suicida,comoseessaspessoasfossemapenasvultos portado-resdeummal.Emtermosdeimagens,aideiasubstancia-se no usode2tiposdefotos:fotosdesfocadas, ondese mos-traumafigurahumanafemininasozinhanumespac¸opúblico comorostoescondido,cabec¸abaixa,delado,numapostura prostrada,vencida,derrotada,(DN,11deoutubro;JN,15de marc¸o),efotosondesemostramfigurashumanasfemininas, sozinhas eemgrupo, decostas,numcenáriocompostode formaasugeririsolamento,abandono,fimdelinha(DN,21de fevereiro),caminhada,passagempara,faltadeluzeescuridão (Público,24deoutubroe18denovembro).Os2retratos ofere-cidostêmoefeitodecolocarqueméportadordomalcomose fossealguémqueoleitorobservadelonge,oudelado,comose olhasseparaumestranho,parao«outro»,masumoutrocuja vulnerabilidadeéexposta,éaparenteouvisível,oquesuscita sentimentoscontraditórios,dedistanciamentomastambém decompaixão.
Do exposto podemos então concluir que o suicídio enquanto fenómenoédefinidocomoumproblemapúblico, querdizer,comoalgodeerradoenegativoqueestáa acon-tecer no seio da populac¸ão portuguesa, como sendo uma ameac¸aparaamesma(porqueemcrescimento)e,portanto, como algoquedevesercontroladooucombatido. Aênfase na negatividade (moral ou emocional) obviamente decorre dosignificado,culturalmentedominante,associadoaotermo «suicídio»usadonostítulosdosartigosportodososjornais. Hácasosemqueosdiáriosoptamporumestilomaisrealistae cru,concretizadode2formas:emtítulosqueretratamo suicí-diocomoprocessoefacto(«Homensmatam-se3-4vezesmais doqueasmulheres»,DN,7dejaneiro;«Emmédiasuicidam-se 5pessoaspordiaemPortugal»,JN,15demarc¸o);empassagens nodesenrolardosartigosemquesedãodetalhes(«se imola-rampelofogo,morreuaoatirar-sedoquartoandar»,DN,7de
janeiro).Orecursoaeufemismostambéméumarealidade, ummeioatravésdoqualsãoativadososconceitos associa-dosàmetáforadavidacomoumaviagem(por/colocartermo àvida)edamorte comodestinofinal. Masimportarealc¸ar quenocorpodosartigosaescolharecai,namaiorpartedas vezes,norecursoatermos eexpressões técnicas (portanto supostamenteobjetivos) usados pelos discursos das fontes consultadas,emespecialdaquelasatravésdasquaissepensa osuicídiocomoumaentidadeoucoisa.
Vimos também que no retrato do suicídio como fenó-meno se explica o mesmo – essencialmente, através do recursoa citac¸ões das fontesacima referidas – no quadro deinterpretac¸ãoedeavaliac¸ãofornecidopelaepidemiologia psiquiátrica.Assume-sequeosfatoresderiscoindividuais– adoenc¸aecomplicac¸õesmentais–sãomaisrelevantes do queosfatoressociaiseeconómicosnaproduc¸ãodoato sui-cida.Estepressupostoécoerentecomodiscursodominante nasaúdepúblicadapromoc¸ãoda saúdeedaprevenc¸ãoda doenc¸a,ondeseconsideraqueosfatoresderiscomais impor-tantessãoosquetêmefeitosimediatosaonívelindividual9.
Noentanto,talnãosignificaqueaexplicac¸ãosocialou econó-micadosuicídionãoentrenodiscursodosjornais.Jávimos antes que a dimensão social é mesmo chamada a título, grac¸as à associac¸ão que se faz entre (aumento do) suicí-dio(outentativade)edeterminadosgrupossociais.Quanto à dimensão económica, todos os jornais lhe dão relevân-ciachamando-aporvezesatítulo(«Medidasdeausteridade potenciamaumentodecasos»,DN,7dejaneiro;«Desemprego criadesesperanc¸aepodeestar aalterarperfildas vítimas, alertamespecialistas»,JN,21deabril;«Pedopsiquiatrasdizem quetentativasdesuicídiodosadolescentesestãoaaumentar comacrise»,«Nopaísexistemapenas20camasparainternar crianc¸aseadolescentescomproblemasmentais»,Público,18 denovembro),nemquesejaparaanegaremabsolutoede formaperentória,queé,ironicamente,outraformadeatornar real,de aafirmar(«RicardoGusmão,CoordenadorNacional daAlianc¸aEuropeiacontraaDepressão‘Nãoháaumentodo suicídioemconsequênciadacrise’»,Expresso,16demarc¸o). Porém,comoasfontesusadasecitadasnocorpodosartigos estãoligadasàsaúdemental,eapenasaela,eéaessasfontes queosjornaispedem,ouvãobuscar,explicac¸ões, evidente-menteque acadeia de causalidade,mesmo quandoinclui referênciaafatoreseconómicoscomoodesemprego, acaba sempreporterminar,deformamaisoumenosdireta,no indi-víduoenapatologia.
Osuicídioenquantoobjetodeac¸ãopreventivainstitucional
Oângulodosuicídiocomoobjetodeac¸ãoinstitucional predo-minanasnotíciaspornósanalisadas.ÉojornalPúblicoqueo usamais,efá-locomartigosquetratamdeformatemática, enãoapenasepisódica,oassunto.Note-sequeousodeste ânguloedoângulodosuicídiocomofenómenopúbliconão são exclusivos em notícias concretas. Pelo contrário, eles coexistem,materializam-seemsimultâneo.Adiferenc¸aestá nasaliênciaqueéatribuídaaumeaoutro,tantoemtermos de número de textos, como em termos de tratamento do tema,enomomentotemporalemqueofazem.Porexemplo, se compararmos a cobertura do DN com a do Público, é
evidenteque,aolongode2013,oprimeirodáprioridadeao ângulodosuicídiocomofenómenopúblico,eosegundoao ângulodosuicídiocomoobjetodeac¸ãoinstitucional.
Para alémdeserem paralelos,estesângulostambémse complementam um ao outro.Digamos quesão 2 faces de umasómoeda.Estarealidadenãoaconteceporacaso.Para compreendermosasuarazãodeser,destacamos2fatores.O primeiroestárelacionadocomosacontecimentosreferentes a 2013, oano emque foi posto à discussão pública, apro-vadoedivulgadoum«PlanoNacionaldePrevenc¸ãodoSuicídio para osanos 2013/2017».Oplano está enquadradono Pro-gramaNacionaldeSaúdeMental2007/2016daDirec¸ão-Geral deSaúdeefoielaboradoporumacomissãode«especialistas» (psiquiatras,enfermeiroseacadémicosportuguesese estran-geiros, DN, 7 de janeiro). O segundo fator remete para as característicasmaisglobaisehistóricasdosdiscursossobre osuicídioelaboradosnoâmbitodasaúdepúblicanas socie-dadesocidentais6,19.Asfontesdeinformac¸ãoqueosjornais
maiscitamsãoespecialistasintervenientesnaelaborac¸ãoe coordenac¸ãodoplano,dandoparticularimportânciaàvoz psi-quiátrica,comoreferimosnopontodedicadoàsfontes.Esta escolhanãoseráalheiaaofactodeocoordenadordoplanoser umpsiquiatra,edeneste,comonoutrosassuntos,osjornais julgaremacredibilidadedasfontesemfunc¸ãodoseu esta-tutosocialepoder49.Mas,paraalémdestaquestãodepoder,
tambémestáemjogooprivilégioqueassimconcederamao pontodevistapsiquiátricosobresuicídio,aperspetivaque, nas2últimasdécadas,temdominado,noplano internacio-nal,odesenvolvimentoparaaprevenc¸ãodosuicídio9.Ora,na
conceptualizac¸ãodosuicídiocomoumfenómenopúblico,que explicitámosanteriormente,apreocupac¸ãocomas estatísti-cas,comaetiologiaecomorisco,eaconfigurac¸ãoparticular emqueela semanifesta, jáéreveladoradapresenc¸aedo predomíniodopontodevistadaepidemiologiapsiquiátrica. Essaconceptualizac¸ãoassentanopressupostomoral funda-mental queintervirno suicídioéum dever,dadotratar-se de umcomportamentoirracional,einscreve-senas arenas privilegiadas da medicina e da saúde pública, arenas que valorizamapreservac¸ãodavidaedasaúdedaspopulac¸ões. Étambém parteintegrantede tendênciascontemporâneas, amplamentenotadaspordiversosautores,deuma progres-siva medicalizac¸ão da vida eda morte. Neste contexto, os discursosdasaúdepúblicareclamamodireitoatomar medi-das adequadasparaproteger aspopulac¸ões contraamorte prematura.Assim,verosuicídiosoboângulodefenómeno públicojáimplicatodoumconjuntodediscursosque estabele-cem,pelassuasanáliseseinterrogac¸ões,umespac¸ocognitivo ondesecristalizamobjetos,eventos,identidadeserelac¸ões.A definic¸ãodosuicídiocomoumproblemadesaúdepúblicatraz consigooestabelecimentodeatoresealvosdaac¸ão,ouseja,de relac¸õesdepoder,justificadasoulegitimadasemvisões parti-cularesdosuicídio,daspessoasquesesuicidamedamelhor formaderesponder aestescomportamentoshumanos.Daí termosafirmadoquearepresentac¸ãodosuicídiocomo fenó-menopúblicoecomoobjetodeac¸ãoinstitucionalsão2faces damesmamoeda.
Noentanto, emtermos deângulo jornalístico,há clara-mentediferenc¸asno usoenasaliênciaquesedão aessas representac¸õesemartigosconcretos.Olhandoparaaquestão
de um ponto de vista diacrónico, podemos afirmar que a explorac¸ão do ângulo do suicídio como objeto de ac¸ão institucional aconteceu em3 momentos fundamentais:no momentoanterior àdivulgac¸ão emabril doplanonacional deprevenc¸ãodosuicídio,nosjornaisPúblico eDN;nomês dedivulgac¸ãodoplano,comoJNeoPúblicoadaremnotícias relativasaumplanodeprevenc¸ãode suicídionaAmadora que ocorreu entre 2008-2012, e o Expresso a entrevistar o coordenadordesseplano,tendoojornalPúblicooptadopor continuaracobriroassuntosobesteângulo,deformamais oumenosdireta,aténovembro.
Paraalémdestadistribuic¸ãodaatenc¸ãoaolongodotempo poderserlida,comtudooquereferimosanteriormente,como manifestac¸ãodopoderdosgruposdeinteresseintervenientes noprocessoparamarcaremaagendanoticiosa,elatambém mostraqueosjornaisparticiparamativamentenoprocesso. Emprimeirolugar,porqueprivilegiaramsempreomesmotipo defontes.Aofazê-lo,fecharamodebatesobreosuicídiocomo objetodeac¸ãoinstitucionalnoquadrodeinterpretac¸ão for-necidopelasmesmas.Emsegundo,porqueaexplorac¸ãodo assuntosoboângulodefenómenopúblico,nostermosemque foifeita,deaumentodamortalidadeedeincertezasquanto àverdadedasestatísticas,criouocontextodedramatizac¸ão necessárioparaalegitimac¸ão,aosolhosdopúblico,da neces-sidadee daurgênciada criac¸ão demedidas «paratravaro fenómeno»(DN, 7de janeiro), eparapressionar ogoverno adeslocar recursos para asmesmas. Porúltimo, porqueo fizeramprivilegiandoo framedoconflitoaqueusualmente osjornaisrecorremnacoberturapolítica,oquepermitiuàs forc¸asemcausaventilaremosseusargumentos.
Apesardeteremsidovariadasasformasdeconcretizac¸ão doframedoconflitoemtextosconcretos,há2questões cen-traisexploradassobesseângulo:qualéequemtemaverdade sobreasestatísticasdosuicídio,emtermosdemortalidade,de custoseconómicosedeimpactodosprogramasdeprevenc¸ão; quaisdeverãoseraspopulac¸õesprioritáriasdosprogramasde prevenc¸ão,osdesempregados,osidososouosjovens?
Estas questões, interligadas entre si, não são tipica-mentenacionais,nemmeramenteconjunturais,apesardeo momentoemqueelasforamtrazidasparaodiscursopúblico serparticularmenterelevante,comojáfoireferido.Trata-sede questõesqueestruturamodebatecientíficoetécnicosobreo assunto,desenvolvidonamedicinaenasaúdepública,eque jásãodelongadata.SenasprimeirasdécadasdoséculoXX, namedicina,haviaacertezadequeasestatísticasda morta-lidadefalavamaverdade,essapercec¸ãomédicamudouapós aIIGuerraMundial.Hojeparecesercomumavisãodeque hádificuldadesemdeterminarcomprecisão«acausa clini-camenterelevante»damorte equeháfaltadeprecisãono registodacausademortenoscertificados50.
Estacrisemaisglobaldeconfianc¸anaobjetividade tradici-onaldocertificadodemorte,enoseuusocomoinstrumento epidemiológico,éparticularmente relevante na questãodo diagnóstico demorte porsuicídio,que paraalguns deveria incluirdadosnãobiológicos,talcomoaintenc¸ãodofalecido. Issoexigiriaumlevantamentodeinformac¸ãojuntode familia-reseamigossobreoestadomentaldapessoaanterioràmorte, umaespéciede«autópsiapsicológica»quedeveriaincluiros servic¸osdocientistacomportamental,psicólogo,psiquiatra, sociólogoetrabalhadorsocial50.
Mastodoestetipodepreocupac¸õesmaisfundamentais, que incluem mesmo a necessidade de ouvir o ponto de vistadoindivíduo,nemquesejaindiretamente, desvanece-senoretratodoconflitotrac¸adonacobertura.Oretratoestá ancorado nopressuposto, largamente suscitadoportoda a imprensaporviada citac¸ãodasvozesespecialistase ofici-aisconsultadas,dequeadistinc¸ãoentremorteporsuicídio e morte poroutras causas éum facto objetivoe evidente, quandonaverdadenãooé.Sendoqueestavisãoédadacomo certa,oucomoaverdadesobreoassunto,oconflitonãosefaz emtornodanaturezaarbitrária,porquesocialeinterpretativa, dodiagnósticodamorteporsuicídio,masdeoutrasquestões, nomeadamente:adivergênciainterinstitucionalnosnúmeros globaisdataxadesuicídioporanoemPortugal,eaincidência dosuicídiosobdeterminadosgrupossociais(velhos,jovens, desempregados).
Sobaquestãodadivergência,asvozesespecialistas cita-dasdividem-seentreatribuiraresponsabilidadepelamesma àpressãodasfamíliasparaocultaroocorrido(Público,13de janeiro,15demarc¸o;JN,21deabril),explicadapormotivos religiososoueconómicos(JN,7dejaneiro,2013);ouatribuir aresponsabilidadeaosmédicos,explicadapelaimpreparac¸ão dosmesmos(Público,31dejaneiro).Oconflitoemtornoda incidênciadosuicídio,umassuntoassociadoàdefinic¸ãode umahierarquiadeprioridadesdeac¸õesdeprevenc¸ão,torna particularmentevisíveis2aspetos:asfragilidadesdascertezas sobreoassunto,ecomoelaspodemfuncionarentregruposde interessecomoarmasdearremesso,numaconjunturapolítica delanc¸amentodeumplanonacionaldeprevenc¸ãodo suicí-dio,tuteladoporumministérioondeapalavradeordeméa reduc¸ãodecustos.
Osuicídioenquantoac¸ãoindividual
Quantoàrepresentac¸ãodosuicídiosoboângulodaac¸ão indi-vidual,destacam-se2trac¸osemparticular:apoucaatenc¸ão dadaaoassunto(4textosem30:2noCorreiodaManhã,um noJNeumnoPúblico,sendooúltimoreferidooúnicoque trataoassuntotematicamente,enquantoosoutroselegema questãoemtermosepisódicos);eousodoângulo jornalís-ticodointeressehumanoemtodoseles.Nos3primeiros,o ângulojornalísticodointeressehumanoécombinadocomo ângulodaresponsabilidade.Ashistóriastecem-seemtorno daatribuic¸ãoderesponsabilidadeamédicosoupsiquiatrasa trabalharemparaaseguranc¸asocialouhospitaispúblicos.No casodosuicídiodeumajovem,aresponsabilidadeéatribuída porfamiliares;nocasodetentativasdesuicídio,asnotícias mostram quesãoacompanhantesouomaridodeumadas fontesaresponsabilizarosprofissionaisdasaúde.
Quanto ao jornal Público, o artigo relata a história da «primeira portuguesaa morrer com aajuda da associac¸ão Dignitas»apropósitodeumlanc¸amentodeumlivroondese contaocaso(Público,12demarc¸o).Sevirmosapublicac¸ão desteartigonocontextodacoberturaqueojornalPúblicofez sobresuicídionodecorrerdoanode2013,éparticularmente evidentequeousodoângulodosuicídiocomoac¸ãoindividual pareceterimportânciaapenasnocasodosuicídioassistido. Importarecordarqueestejornaléaquelequeintegraomaior númerodeartigosconstruídossoboângulodosuicídiocomo objetodeac¸ãopreventivainstitucional,oquesignifica,ainda que implicitamente, o reconhecimentoda permissibilidade
moraldodeverdeimpedir atosdesuicídio,edodireito do Estadointervirenquadradonasaúdepúblicaenasaúde men-tal.Massónocasodosuicídioassistidointerpretaoassuntode formamaisoumenosexplícitasoboângulomoral.Eesse cui-dadoediferenc¸amanifestam-sedeváriasformas:naprópria construc¸ãodotítulo(«Mariajantoubacalhauantesdea ajuda-remamorrernaSuíc¸a»),quecombinaasopc¸õesdedesignar apersonagemprincipalda históriapelonomepróprio ede incluirdetalhes,ambasasopc¸õespoucovulgaresemjornais chamadosdereferência;naênfasedadanãoàac¸ãolevada acabopelapersonagemprincipaldahistória,masaquema acompanhou;naimportânciaenoníveldedetalhefornecido nadescric¸ãodoestadofísicodamesma,referidoemsubtítulo peladesignac¸ão«doenteterminal»;nosmuitoseufemismos usadosparadesignaroatodesesuicidar;nocontraste retó-ricocriadoentreosofrimentodosenvolvidoseafriezadalei,e naescolhadasfontes(ligadasaosdireitoshumanos,àdefesa dosuicídioracionalemcasodesofrimentosemrecuperac¸ão). Todosesteselementos contribuemparainspirarcompaixão nosleitoreseparecemevidenciardapartedojornalumaclara simpatiapelacausa.
Emjeitode resumo,os 3ângulosescolhidos para inter-pretaro suicídioresultam numa representac¸ãodo suicídio como umaentidademaléfica,oculta,cujosefeitos nãosão realmenteconhecidos;algo deorigem patológica,queurge combater, efaceà qualseestão areforc¸ar as barreirasde protec¸ãoeosmeiosdecontroloinstitucional.Serácasopara perguntarse,naquestãodosuicídio,paraalémdosnúmeros, daabstrac¸ãoedaracionalizac¸ão,quealimentamomedoea distância,nãohaverálugarparaacompreensãodosentido desteatohumano.
Conclusão
Conformevimos,aimprensaportuguesaabordaosuicídioa partirde3ângulos: enquanto fenómenopúblico,enquanto objetodeac¸ãopreventivainstitucionaleenquantoac¸ão indi-vidual.Osuicídioé,assim,representadocomoumaentidade maléfica,queéprecisocombater,nomeadamenteatravésde meios institucionais. Na imprensaportuguesa, osuicídio é geralmenteabordadoenquantoobjetodeac¸ãoinstitucional. Porvezes,osjornalistasusamesteângulo–daac¸ão instituci-onal–eodosuicídiocomofenómenopúblicoemsimultâneo, namesmanotícia.Noentanto,osuicídiocomoobjetodeac¸ão institucionalpredomina,apesardeos2ângulosdeabordagem secomplementarem.
Noquetocaaotratamentojornalístico,seolharmosparaa linhatemporaldasnotícias,percebemosqueosuicídiocomo objeto de ac¸ão institucional é explorado em 3 momentos: antesdadivulgac¸ãodoplanonacionaldeprevenc¸ãodo sui-cídio,no mêsdedivulgac¸ão doplano (emabril de 2013),e posteriormenteàsuadivulgac¸ão.
Osgruposdeinteresseintervenientesnesteprocesso ten-tarammarcaraagendamediáticaduranteesteperíodo,mas tambémosjornalistasderamvozàsfontesaomesmotipode fontes–oficiaiseespecializadas,nomeadamentedocampo dasaúdepúblicaesuicidologia.Estasfontestransmitirama suainterpretac¸ãodosuicídiocomoobjetodeac¸ão institucio-nal,comoumfenómenoqueurgetravar.Privilegiou-seoframe
doconflito,perseguindonomeadamente2questões:qualée quemtemaverdadesobreasestatísticasdosuicídioem ter-mosdemortalidade,decustoseconómicosedeimpactodos programasdeprevenc¸ão;quaisdeverãoseraspopulac¸ões pri-oritáriasdosprogramasdeprevenc¸ão,osdesempregados,os idososouosjovens?
Oângulodofenómenopúblicoconsistenumretratodo sui-cídiocomoumproblemadesaúdepública,quecausacadavez maismortesnapopulac¸ão.Osmediaabordamosuicídiocomo algoquecolocaaspessoasemriscoequepodematar, aler-tando,aomesmotempo,paraofenómenoedandoalguma tranquilidade sobre aquiloque sepassa.Istoéconseguido atravésdalimitac¸ãodoperigoacertosgruposetários,estados mentais,condic¸ões económicasesociaisouregiãodopaís. Adelimitac¸ãodofenómenoéfeitaatravésde«umperfildas vítimas»,nomeadamenteatravésdasaúdemental.Asnotícias aquianalisadasmostramumaassociac¸ãoentreo«aumento dossuicídios»ou«oaumentodastentativasdesuicídio»eum estadomentaldebilitado,sejapela«depressão»,«desespero», «solidão»,ou«doenc¸asmentais».
Este retrato do suicídio associado a pessoas «de risco» reflete-senouso,pelosjornalistas,defontesdaáreadasaúde mental,suicidologia,ousaúdepública.Destacam-seas fon-tesoficiaise/ouespecializadas,quepeloseupoderpercebido conferemcredibilidadeànotícia.
Enquantofenómeno,osuicídioéabordadocomoum pro-blema público, uma ameac¸a à populac¸ão – que deve ser combatida.Porviadousodasfontesligadasàsaúdepública, odiscursotransmitidoacabaporser,predominantemente,o dasaúdepública.Destemodo,asassociac¸õesentresuicídioe doenc¸amentalsobrepõem-seaosfatoreseconómico-sociais, comoodesemprego.
Porfim,osuicídioenquantoac¸ãoindividual nãosuscita grandeinteressedapartedaimprensa–e,quandoisso acon-tece,privilegia-seoângulodointeressehumano.
Osmediasãopercebidoscomoatoresnaprevenc¸ãodo sui-cídio,podendoconstituir-secomoaliados,comoobstáculos, oucomoinimigos.Nestetrabalho,constatámosqueos jorna-listasseposicionamcomoaliadosdasautoridadesdesaúde naprevenc¸ãodosuicídioenoalertaparaossinaisderisco. A coberturanãoapresenta ostrac¸ossensacionalistas iden-tificados emestudosrelativos a outrospaíses epela OMS. Raramentesãoapresentadosdetalhessobreosmétodos usa-dos;nãohátitulac¸õesdramáticas,sendopreferencialmente construídasnumtomfactual;osretratosdecasosparticulares são sempre enquadrados numa perspetiva de saúde men-tal,não recebem umaatenc¸ão particulareestão imbuídos designificac¸õesnegativas.Odestaquedadoaoassuntosegue depertoaagendaoficial,ligadaàsaúdepública,não resul-tando,portanto,deumqualquerinteressemenossocialmente responsávelassociadoaoriscodabanalizac¸ão.
Uma vez que as notícias analisadas parecem cumprir as recomendac¸ões dadas pela OMS e pela DGS, podemos considerar a cobertura analisada como sendo uma cober-tura «responsável» do suicídio. Na verdade, a informac¸ão ao dispor dos leitores é variada, permitindo que os mes-mosseapercebamdacomplexidadeedagravidadedotema. Simultaneamente, essa informac¸ão tem também a func¸ão de os alertar para o perigo, ao mesmo tempo que evita a dramatizac¸ão,aocircunscreveroriscoadeterminadosperfis,
gruposeregiõeseaoretrataresseriscocomocontrolável.Por estesmotivos, consideramosquedesempenhaumafunc¸ão preventiva. No entanto, tal como referimos na nossa aná-lise,seriarecomendávelqueaestapreocupac¸ãopreventiva sealiasseumapreocupac¸ãohumanista.Éque,naverdade,o tomfactualdashistórias,apreocupac¸ãocomosnúmerose aobjetivac¸ãodosprocessoseatosdecorrentesdousodo dis-cursotécnicodasfontesconsultadas,podemcontribuirpara umexcessivodistanciamentodosleitoresfaceàsortedo sui-cidaealimentarsentimentosdemedo.Estesfactosemnada ajudamocuidadocomooutro.Ora,ocuidadocomooutro éessencialparaqueasociedadesetorneefetivamente um agentedeprevenc¸ãodosuicídio.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
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